Uso de aditivos alternativos cresce na produção brasileira

A Portaria n°. 623 de 22 de julho de 2022 da Secretaria de Defesa Agropecuária amplia a lista de antibióticos proibidos para uso na produção animal enquanto melhoradores de desempenho. Entre os insumos relacionados na minuta original da portaria estão a Bacitracina de Zinco, Bacitracina Metileno Disalicilato, a Lincomicina, a Tilosina e a Virginiamicina, sendo este último, um dos aditivos mais utilizados como melhorador de desempenho na Avicultura brasileira atual. 

A nova portaria da secretaria ligada ao MAPA (Ministério da Agricultura) poderá representar mais um passo do Brasil em direção a uma tendência crescente no mundo, que é a retirada total do uso de antibióticos para a promoção do desempenho dos animais  de produção. A prática está totalmente abolida da Avicultura europeia desde 2006 e nos Estados Unidos se aproxima de 80% da produção avícola já realizada dentro do conceito “livre de antibiótico”.  No Brasil, 20% da produção de aves é realizada sem o uso de antibióticos promotores de desempenho e a expectativa era de chegar a 27% até o final de 2022.

A redução do uso de antibióticos na produção animal é proveniente de uma preocupação mundial que surgiu há mais de duas décadas, relacionada ao enfrentamento de bactérias resistentes encontradas na saúde humana. O debate abrange a redução do uso de moléculas na produção animal, bem como o uso consciente na saúde humana.

Melhoradores de desempenho na produção animal

A aplicação de subdoses  de antibióticos na produção animal passou a ser adotada na década de 1950, com o objetivo de reduzir o povoamento do intestino dos animais por bactérias nocivas e, assim, ampliar o aproveitamento dos nutrientes.

Essa eliminação de bactérias passou a refletir em um aumento da digestibilidade dos nutrientes e na melhoria da conversão alimentar, chegando a representar ganhos entre 150 e 300 gramas de peso por quilograma de carne de frango produzida na época.

Hoje a produção animal caminha no sentido de conjugar aditivos alternativos que garantam a colonização intestinal por bactérias benéficas, possibilitando superar os resultados de conversão alimentar até então só alcançados com o uso dos antibióticos. Esta nova forma de uso de antibióticos também tende a alcançar melhores índices de bem-estar animal, além da redução das taxas de mortalidade e de produção de resíduos.

Aditivos fitogênicos, extratos e óleos essenciais

Aditivos fitogênicos são produtos originados de plantas também conhecidos por fitobióticos ou nutracêuticos. Estes produtos compreendem uma ampla variedade de ervas, especiarias e produtos derivados, tais como os óleos essenciais e extratos (Windisch et al, 2008).

Quando adicionados a dieta dos animais, esses produtos são capazes de aumentar a produtividade, a qualidade da ração e as condições de higiene, além de melhorar a qualidade dos alimentos derivados desses animais de produção (Koiyama, 2012).

Os extratos e os óleos essenciais de plantas, há muito tempo utilizados na medicina humana, passaram a ser explorados na produção animal mais recentemente. Os princípios destes compostos são absorvidos no intestino e rapidamente metabolizados pelos enterócitos (Koilert et al,. 2000), biotransformados  no fígado e posteriormente excretados pela urina e  respiração (CO2).

Devido à rápida metabolização e curta meia-vida dos compostos ativos, o risco de acúmulo nos tecidos é mínimo. Quando utilizados de forma combinada, os extratos e óleos essenciais podem potencializar os efeitos dos produtos fitogênicos (Rizzo et al 2008).

Algumas combinações destes compostos, adicionadas à ração das aves, fornecem substâncias ativas que podem ter efeito antioxidante, antimicrobiano, anti-inflamatório, antisséptico e imunomodulador, entre outros.

Desafios da Coccidiose

Em aves desafiadas pela coccidiose, juntamente com o uso de Enramicina, o fitogênico potencializou a ação do programa coccidiostático, reduzindo a quantidade de eimerias no intestino. O índice HTSi da E. acervulina passou de 10 para 5%,  sendo que a E. máxima  passou de 15 para 10% e a E. tenella  passou de 5 para 0%.

Os resultados das aves desafiadas para coccidiose também foram positivos nos experimentos realizados sem o uso de antibióticos promotores de crescimento. O volume de E. acervulina  manteve-se em 0%, sendo que a E. máxima  passou de 20 para 5% e a E. tenella  passou de 20 para 0%.

Considerações finais

Os fitogênicos têm grande potencial para substituição dos antibióticos melhoradores de desempenho ou para uso associado a outros aditivos, com diversos efeitos benéficos associados, reforçando a proteção intestinal das aves. Entretanto, é fundamental destacar que a nutrição é tão importante quanto as práticas de manejo, biossegurança e ambiência, entre outros. Somente a gestão de cada área pertencente à cadeia, aliada ao conhecimento técnico sobre os principais pilares da avicultura poderão influenciar diretamente na eficácia das combinações dos substitutos  antibióticos melhoradores de desempenho. 

Fonte:

Adaptado de Marcelo Torretta – A Revista do Avisite

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