A cama dos aviários interfere diretamente sobre as condições de saúde e bem-estar das aves, pois ela colabora no conforto térmico, evita o contato direto das aves com o piso, absorve umidade e evita a formação de dermatites de contato nos frangos.
Foi então que James Corbett, diretor administrativo do Ridgeway Foods Group, empresa localizada na Inglaterra, abordou em uma palestra na Conferência Internacional de Ovos (IEC), em Veneza, sobre o manuseio da cama de aves. James afirmou que para alguns produtores, a cama representa um custo significativo, enquanto para outros é uma fonte extra de renda, além de apresentar oportunidades para a redução das emissões de gases de efeito estufa e geração de energia sustentável.
Corbett questionou os produtores se eles estavam aproveitando ao máximo o potencial dos resíduos aviários, e comentou que sua empresa desenvolveu e patenteou com sucesso, uma tecnologia de combustão em leito fluidizado, transformando as excretas em calor e eletricidade para uso dentro das próprias granjas. Corbett disse que a tecnologia foi comprovada ao longo de horas de operação substanciais e agora já funcionava em 14 unidades instaladas em granjas no Reino Unido. No entanto, dados operacionais foram usados e avaliados pela Comissão da União Europeia para definir novas regras de implementação para o uso das excretas de aves como combustível (Regulamento da UE 592/2014 e 1762/2017). Além do calor produzido, é gerado um fertilizante orgânico com altos níveis de fósforo e potássio.
No Reino Unido, o valor de mercado dos dejetos de aves varia entre £ 10 a £ 15/tonelada, considerando o valor do nitrogênio como fertilizante, que mais tarde estará disponível para as lavouras. Em outros países, os produtores precisam secar e peletizar as excretas antes de ser vendida. Além disso, precisa ser armazenada adequadamente para evitar a poluição da água.
Corbett ainda destacou os desafios enfrentados pelos produtores em relação ao descarte da cama de aves, particularmente na região do Rio Wye, fronteira entre Inglaterra e País de Gales. Nos últimos 15 anos, uma grande expansão avícola foi percebida, levando a uma queda na qualidade da água e fazendo com que o governo do Reino Unido, disponibilizasse uma quantia de £ 35 milhões aos produtores para redução da queima de resíduos dos aviários. Segundo Corbett, isso não resolverá o problema, mas pelo menos dará aos produtores uma opção de como gerenciar esses resíduos, acrescentando que deveria haver uma solução ambiental para tal descarte, sendo uma opção a geração de eletricidade para as granjas e as cinzas produzidas poderiam ser usadas como fertilizante.
Uma outra proposta para o uso da cama de aves foi sugerida por Octavio Gaspar, diretor administrativo da Ovobrand, situada na Argentina. Gaspar comentou sobre um projeto de monodigestão, que envolve o uso de excretas frescas de aves como único substrato sólido, que é misturado ao seu próprio efluente líquido. Todos os dias, um total de 170 toneladas de excretas de aves são produzidas e transportadas para os campos por meio de tanques, onde são homogeneizadas e misturadas para obter o carbonato de cálcio orgânico. O líquido resultante é bombeado para um tanque de recepção para tratamento térmico e após 22 dias em biodigestores anaeróbicos, é convertido em gás metano e dióxido de carbono. O biogás obtido é desumidificado e o enxofre é removido para então, gerar energia por meio da combustão interna.
O líquido mineralizado dos biodigestores é filtrado, separando a fração sólida, que é processada em um forno para obter um produto comercial. A fração líquida passa por mais tratamento aeróbico e anaeróbico para ser usado como biofertilizante. No total, isso acaba transformando resíduos orgânicos em 1,4 MW (Mega Watt) de eletricidade e 1,2 MW (Mega Watt) de energia térmica, o suficiente para abastecer 3.700 residências ou todo o gasto energético da empresa Ovobrand.
Segundo Gaspar, ao usar o processo de monodigestão do esterco fresco de aves, a empresa estava evitando a necessidade de usar culturas energéticas, gerando eletricidade e biofertilizantes. Esta é uma solução com triplo impacto: social, ambiental e econômico.
Essas iniciativas refletem uma nova era para o setor avícola, com tecnologias de manejo de resíduos que impulsionam a sustentabilidade e abrem novas possibilidades de renda para os produtores.
Fonte: Adaptado Agrimidia, 2024. Disponível em: https://www.agrimidia.com.br/avicultura-industrial/solucoes-sustentaveis-para-energia-e-renda-na-avicultura/
Adaptado Poultry World, 2024. Disponível em: https://www.poultryworld.net/the-industrymarkets/market-trends-analysis-the-industrymarkets-2/poultry-manure-to-energy-where-theres-muck-theres-brass/