Repensando as medidas de biosseguridade para atender aos atuais desafios da cadeia avícola

Repensar as medidas de biosseguridade é essencial para que os desafios atuais possam ser superados. A mensagem é da especialista em epidemiologia, Médica Veterinária, Professora Dr.ª Masaio Mizuno Ishizuka, atuante na avicultura brasileira há 57 anos.

Segundo a especialista, a epidemiologia é um método de diagnóstico de doenças e dos meios para inclusão de medidas preventivas por meio de diagnóstico clínico e laboratorial. Atualmente, os maiores riscos à avicultura de postura giram em torno de questões sanitárias e para que nosso plantel esteja seguro, mudanças em relação às medidas de biosseguridade são necessárias. Independentemente da doença, mesmo que estejam ou não incluídas na legislação ao Plano Nacional de Sanidade Avícola, recomenda-se sua descrição no Delineamento de Programas de Sanidade Avícola para cada doença ou conjunto de doenças com similaridade de propagação. este documento irá definir qual a atual situação atual da doença e em qual patamar deseja-se alcançar.

A Dr.ª Masaio ressalta a importância dos responsáveis técnicos (RT), que entre diversas funções, devem avaliar os riscos, delinear as medidas de biosseguridade, bem como repassar o conhecimento aos envolvidos e avaliar periodicamente se as medidas adotadas estão funcionando ou precisam ser repensadas. Além do diagnóstico clínico e laboratorial, os técnicos devem avaliar diferentes quesitos ambientais para evitar a propagação de doenças como a qualidade da água, ar, alimentos, dejetos, instalações, veículos, visitantes, pragas e roedores, entre outros. Sendo assim, um constante aprimoramento de manejo sanitário é de extrema importância para garantir um futuro promissor dos processos produtivos brasileiros.

Embora o Brasil atenda de maneira satisfatória aos pré requisitos de biosseguridade, quando comparado à países desenvolvidos, os três níveis de riscos referentes a biosseguridade precisam ser revistos, e são eles a biosseguridade conceitual (riscos externos), biosseguridade estrutural (riscos referentes às instalações) e biosseguridade operacional (riscos referentes às atividades operacionais).

Felizmente, a Dr.ª Masaio aponta que o risco do Brasil ser acometido por doenças, como a Influenza Aviária (IA) são baixos e indica alguns pontos para defender sua fala:

  • A maioria dos vírus de IA infectam aves silvestres que habitam áreas úmidas, pantanosas e aquáticas;
  • Baixas temperaturas favorecem a sobrevivência do vírus (até 20°C), enquanto temperaturas entre 20° e 32° não favorecem a proliferação desses vírus;
  • As áreas de risco estão concentradas no norte e centro Europeu, leste do Mediterrâneo, leste e sudeste asiático. Há dependência também de questões sociais, econômicas e ambientais;
  • É preciso que haja uma proximidade entre setores produtivos e abundância de aves aquáticas migratórias, e que ocorra o contato entre as aves de produção e aves silvestres para a introdução do vírus, bem como a utilização de cama, utensílios e maquinários contaminados;
  • Atrasos no início do processo de migração das aves pode reduzir anualmente o número de casos de IA;
  • A mortalidade das aves migratórias infectadas durante a migração diminui a probabilidade de disseminação do vírus.

Sobre o Plano de Vigilância de Influenza Aviária e Doença de Newcastle, a especialista ressalta que o documento está adequado e enfatiza que até o momento, não houve nenhuma ocorrência de IA em território nacional. Infelizmente, tais medidas realizadas pela Defesa Sanitária Animal em relação à biosseguridade são pouco divulgadas e basicamente desconhecidas pelos consumidores brasileiros. A comunicação com esse público precisa ser mais eficiente e deixar transparente que tais medidas visam garantir a qualidade sanitária dos alimentos de origem animal.

A Dr.ª Masaio finaliza a entrevista com uma interessante fala sobre a evolução do setor avícola nestas 5 décadas de trabalho no setor. Ela relata sua preocupação, indicando que até a década de 1970, na criação de animais de produção como aves e suínos, em sistemas extensivos, ocorria elevada prevalência de doenças relacionadas a condições ambientais, como enterobactérias que cumprem parte de seu ciclo no solo. Entretanto, doenças respiratórias eram poucas ou inexistentes. Após a década de 1970, com a intensificação dos sistemas de produção e maior aglomeração de animais em ambientes fechados, houve uma redução drástica de doenças entéricas, mas houve algumas exceções, citando agentes que conseguiram encontrar condições de proliferação por meio de pragas e roedores, moscas, cascudinhos e objetos contaminados. Ainda houve um aumento de doenças respiratórias, fato devido a alta densidade de animais, ventilação inadequada e baixa qualidade do ar. Tal problema persiste até os dias atuais.

Em linhas gerais, a biosseguridade deve ser repensada para que os desafios atuais possam ser ultrapassados, investigar se galpões automatizados adequam-se ao atendimento das necessidades do setor avícola e disseminar conhecimento de qualidade para todos os envolvidos no processo produtivo da cadeia avícola.

Fonte: A Revista do OvoSite – Edição Junho/2022, por Glaucia Bezerra

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe:

Ao continuar a usar nosso site, você está concordando com o nosso uso de “cookies”. Para saber mais, por favor, veja a nossa Política de Privacidade.