Problemas na nutrição de galinhas livres de gaiolas que requerem atenção

Devemos estar sempre atentos a questões que envolvam a alimentação de galinhas criadas em sistemas livres de gaiolas para permitir a manutenção de seu bem-estar.

Em muitos sistemas, aves livres de gaiolas não significa necessariamente que as aves têm acesso ao ar livre, pois elas podem ser mantidas em galpões fechados, com ou sem andares. Mesmo assim, isso ainda contrasta com as aves mantidas em gaiolas, que têm movimento e comportamento restritos. Essa liberdade extra, e merecida, agora dada às aves leva os produtores a adaptarem seu manejo, alguns ligados à nutrição das galinhas:

  • Aumento da atividade física. Galinhas livres se movem, gastam mais energia e forçam mais os seus ossos, especialmente quando se movem/voam em uma direção não horizontal em aviários com diversos andares. No entanto, todo esse exercício extra também evita problemas como a fadiga da gaiola e/ou síndrome dos ossos fracos.
  • Interação social. Galinhas livres de gaiolas podem competir mais por sua ração, aumentando assim suas necessidades de energia. Eles também competem mais por status social e, em geral, levam uma vida mais ativa/interessante. Embora esses pontos sejam considerados o mais próximo do natural, o incremento de atividade também aumenta tanto o gasto de energia da ave, como pode fazer com que as galinhas submissas não se alimentem adequadamente, especialmente se as aves têm restrições na quantidade de ração oferecida por dia.
  • Contato com excretas. As gaiolas evitavam o contato direto da ave com suas excretas, fato que não é possível em um sistema sem gaiolas, no qual é possível que esse contato seja frequente. Isso aumenta a exposição das aves em relação a coccídeos, especialmente por que também temos várias restrições em relação ao uso de medicamentos.
As mudanças entre os sistemas não mudam o básico que conhecemos sobre a nutrição das aves, mas criam a necessidade de revisar e/ou resgatar questões sobre como oferecer uma dieta que atenda às necessidades das aves que esse novo sistema exige.
1. Energia

Estima-se que a liberdade de movimento em galinhas livres de gaiolas aumente os requisitos de energia entre 5% e 15%, dependendo do tipo e densidade das instalações. Existem duas maneiras de aumentar a ingestão de energia:

  • Aumentar a quantidade diária de ração em, aproximadamente 5% e acompanhar seu peso corporal e desempenho; manter o consumo de ração em níveis estabelecidos (importante para linhagens genéticas com apetite limitado).
  • Aumentar a concentração de energia na dieta adicionando uma fonte lipídica ou reduzindo a concentração de fibra, ou uma combinação dos dois. É aconselhável monitorar esses itens por vários ciclos até verificar se os resultados são confiáveis e satisfatórios.
2. Proteína

A atividade física extra está sempre associada a uma boa musculatura, que requer proteína para sua formação e manutenção. Embora se espere que esse requisito seja mínimo e se espalhe por um longo período de tempo, ele não pode ser insignificante em animais alimentados com uma ração incompleta. A proporção de energia para proteína (aminoácidos) pode exigir um pequeno ajuste. Acompanhe quedas repentinas no peso do ovo ou caso observe uma compatibilidade entre a idade da ave com o peso esperado do ovo, pode ser um indicativo de que seja necessária mais proteína na ração.

3. Desperdício

A alimentação de aves em gaiolas sofre baixo desperdício, mas nem sempre é o caso em sistemas sem gaiolas, especialmente quando a densidade e o espaço do comedouro criam padrões de competitividade entre as aves. Também é possível que a ração seja desperdiçada devido ao projeto e/ou tipo do comedouro, especialmente quando um aviário é convertido pela primeira vez em um sistema sem gaiolas. Fique de olho nas galinhas durante o período de alimentação e verifique se há competitividade, se há desperdício de ração e  possível motivo.

4. Variação do peso do ovo

O aumento da atividade física, interação social e competição, quando associados, podem fazer com que algumas galinhas recebam quantidades inadequadas de ração. Isso pode ser evidenciado, por exemplo, por um aumento na variação do peso do ovo, seguido por uma queda no número de ovos em relação ao esperado conforme peso e idade da ave. Se isso acontecer e a densidade não puder ser alterada, em último caso pode-se tentar aumentar a oferta de ração ou a densidade de nutrientes. Tal movimento fará com que as aves no topo da escala hierárquica fiquem acima do peso, mas momentaneamente resolverá a questão da baixa postura de ovos ou variação do peso dos ovos. Lembrando que esse processo seria adotado em último caso.

5. Consumo excessivo de água

O aumento da ingestão de água em galinhas pode ser devido ao acesso reduzido de ração ou ao aumento da necessidade de água para excretar minerais supérfluos. Isso não seria um grande problema em galinhas mantidas em gaiolas, mas especialmente para aves livres, pois influencia de maneira negativa sobre a qualidade da cama, aumentando a umidade da cama e causando problemas secundários como dermatites, problemas nas pernas, ovos sujos e maior incidência de doenças. A atividade física extra associada ao estresse térmico também poderá aumentar a ingestão de água. Recomenda-se o controle do uso de minerais, proteínas e fibras nas dietas.

6. Coccídeos

É conhecido que certos aditivos podem manter a saúde intestinal e a imunidade das aves. Entretanto, não existe um único produto que possa controlar a coccidiose de forma tão eficaz quanto os medicamentos coccidiostáticos tradicionais, e esse é um problema que vem sendo discutido. Enquanto isso, um conjunto de medidas preventivas, das quais a nutrição é apenas uma pequena parte, deve ser empregada para proteger a saúde intestinal das aves.

7. Ossos

A saúde óssea sempre foi um problema para as galinhas poedeiras e quando associada a falta de exercícios e alta produtividade, especialmente em sistemas com gaiolas, levam as aves a apresentarem uma estrutura óssea fraca. As galinhas não conseguem absorver cálcio suficiente para tanto sustentar uma estrutura óssea quanto manterem o alto nível de produtividade imposto à elas na pela sua genética. Em galinhas livres de gaiolas, os ossos também precisam estar fortes, pois além da postura, elas apresentam maior atividade física e precisam aprender a se movimentarem corretamente para evitarem as fraturas, especialmente no final do ciclo. Isso poderá levar, em sua forma mais branda, à redução da ingestão de ração e água, pois as galinhas terão dificuldade em se movimentar para satisfazer essas necessidades. Assim, todas as medidas nutricionais para galinhas em relação a fornecimento e absorção diária de cálcio, fósforo e vitamina D devem ser intensificadas em sistemas livres de gaiolas.

Não há dúvida de que muitos desafios surgirão até que os sistemas livres de gaiolas se tornem cada vez mais comuns. Embora possamos resolver questões importantes como o bem-estar das aves, ainda precisamos trabalhar de maneira assertiva com a nutrição de aves mantidas nestes sistemas, e mesmo assim, a nutrição por si só poderá resolver todos esses desafios, entretanto, estamos no caminho certo. Não desistir, trocar experiências e se capacitar podem evitar que muitos erros sejam cometidos e/ou repetidos.

Fonte:

Adaptado de Ioannis Mavromichalis, WATTPoultry.com. 2022.

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