A Iniciativa MIRA Frangos desenvolveu uma pesquisa aprofundada para identificar os principais pontos críticos na cadeia de produção de frangos de corte e, a partir disso, construir soluções práticas e viáveis para aprimorar o bem-estar animal nesse setor. O objetivo é unir esforços com produtores, pesquisadores, indústrias e consumidores para impulsionar mudanças positivas e fortalecer um modelo de produção mais responsável e eficiente.
Download Versão PDF
O bem-estar animal tem se tornado uma preocupação cada vez mais relevante na produção animal, impulsionado tanto por avanços científicos quanto pela crescente exigência de consumidores e mercados por práticas mais sustentáveis e éticas. No caso específico da produção de carne de frango, diversos fatores exercem impacto direto na qualidade de vida dos animais, como o manejo, a genética, a nutrição e as condições ambientais das instalações.
Nesse contexto, os sistemas alternativos de criação vêm ganhando espaço como alternativas ao modelo convencional, pois oferecem melhores condições de vida às aves, promovendo comportamentos naturais e reduzindo o estresse. Além disso, práticas que favorecem o bem-estar animal – incluindo ajustes na densidade, enriquecimento ambiental, ventilação adequada, transporte e métodos de abate mais humanitários – têm sido cada vez mais valorizadas por consumidores, empresas e regulamentações internacionais.
Diante desse cenário, a Iniciativa MIRA Frangos desenvolveu uma pesquisa aprofundada para identificar os principais pontos críticos na cadeia de produção de frangos de corte e, a partir disso, construir soluções práticas e viáveis para aprimorar o bem-estar animal nesse setor. O objetivo é unir esforços com produtores, pesquisadores, indústrias e consumidores para impulsionar mudanças positivas e fortalecer um modelo de produção mais responsável e eficiente.
A pesquisa foi proposta pela Iniciativa MIRA Frangos com o intuito de mapear informações da avicultura de corte brasileira, conhecimento sobre bem-estar animal e o quanto as empresas ou profissionais respondentes podem estar próximos ao atendimento do Better Chicken Commitment (BCC).
O BCC é formado por um conjunto de padrões baseados em estudos científicos, que quando aplicados em conjunto, aumentam significativamente o bem-estar dos frangos de corte. Para maiores informações sobre o BCC e quais fatores são importantes, consulte a cartilha em nosso site disponível no link https://mira.org.br/cartilha/.
Dessa maneira, um questionário foi produzido e dividido em duas partes:
O questionário foi enviado a 110 potenciais respondentes como empresas integradoras, produtores, frigoríficos, criatórios, universidades, profissionais e demais importantes atores da avicultura brasileira sob a forma de e-mail, Instagram, WhatsApp e publicação de 8 notícias nos seguintes canais de comunicação:
Mundo Atualizado (https://mundoatualizado.com.br/iniciativa-mira-lanca-questionario-para-coletar-informacoes-sobre-o-bem-estar-de-frangos-de-corte/)
AB Notícias News (https://abnoticianews.com.br/noticia/161326/iniciativa-mira-lanca-questionario-para-coletar-informacoes-sobre-o-bem-estar-de-frangos-de-corte)
Gazeta da Semana (https://gazetadasemana.com.br/noticia/175005/iniciativa-mira-lanca-questionario-para-coletar-informacoes-sobre-o-bem-estar-de-frangos-de-corte)
Jornal do Belém (https://jornaldobelem.com.br/noticia/48353/iniciativa-mira-lanca-questionario-para-coletar-informacoes-sobre-o-bem-estar-de-frangos-de-corte)
Novo Jornal Brás (https://novojorbras.com.br/noticia/23002/iniciativa-mira-lanca-questionario-para-coletar-informacoes-sobre-o-bem-estar-de-frangos-de-corte)
Sala de Notícia (https://saladanoticia.com.br/noticia/86732/iniciativa-mira-lanca-questionario-para-coletar-informacoes-sobre-o-bem-estar-de-frangos-de-corte)
Esta pesquisa também permaneceu disponível para acesso no site da Iniciativa MIRA (https://mira.org.br/) de Maio de 2024 a Fevereiro de 2025.
Embora o bem-estar animal seja um assunto atual e indispensável, especialmente dentro da produção animal, a Iniciativa MIRA Frangos obteve apenas 11 respondentes:
Mesmo com um baixo número de respondentes, a participação da JBS – a maior empresa de proteína animal do mundo – representa um avanço significativo e uma demonstração de confiança no trabalho da Iniciativa MIRA Frangos. No Brasil, a JBS responde por 80% a 90% da produção de proteína animal e, no setor de frangos de corte, representado pela Seara, abate, em média, 2 bilhões de frangos anualmente. Os respondentes são provenientes de três regiões do Brasil:
A Iniciativa MIRA Frangos estima que o número de frangos de corte impactados positivamente pelos respondentes deste questionário é de 2.134.510 aves!
A seguir, seguem as perguntas e respectivas respostas da nossa pesquisa.
3.1.1 – Quais os tipos de sistemas de criação de frangos de corte da sua empresa? (Foi possível incluir mais de uma resposta).
Segundo os respondentes, há uma predominância de galpões mantidos nos sistemas intensivos representando 44%, seguido pelo sistema caipira (37%) e sistema orgânico (19%; Figura 1).
3.1.2 Quais os tipos de instalações que você utiliza para alojar os frangos de corte? (Foi possível incluir mais de uma resposta).
OBS: A JBS não informou o número de galpões.
3.1.3 Com relação a densidade das aves aplicada em cada tipo de instalações, observou-se que: (Foi possível incluir mais de uma resposta)*.
* A JBS informou que a densidade varia de acordo com os requisitos exigidos pelo mercado e o tipo de cliente, mas tais valores atribuídos à densidade, já estão incluídos nas porcentagens acima.
3.1.4. Qual o tempo médio de criação de frangos de corte (em dias) alojadas nos diferentes tipos de instalações?
Em ambos os sistemas, convencional e climatizado, os respondentes indicaram que o tempo de criação das aves varia de 40 a 42 dias (45% das respostas), sendo que 9% dos respondentes criam as aves até 47 dias. 18% não responderam a esta pergunta. Para o sistema caipira, o tempo variou de 85 a 120 dias de criação (28%).
3.1.5 Com quais linhagens de frangos de corte você trabalha atualmente? (Foi possível incluir mais de uma resposta).
3.1.6 Quais os principais motivos para realizar o descarte dos frangos de corte nas propriedades e a respectiva porcentagem de incidência de cada motivo? (Foi possível incluir mais de uma resposta).
De forma geral os respondentes citaram que os maiores motivos para o descarte de aves são:
A JBS informou utilizar um padrão para a observação da locomoção das aves (Kestin et al., 1992):
*Os animais classificados com escores 4 ou 5 devem ser eutanasiados conforme OT_AGR_9044.
3.1.7 Quais condições ambientais internas das instalações, onde estão alojados os frangos de corte, são monitoradas a cada lote? (Foi possível incluir mais de uma resposta).*
Verificou-se que 100% dos respondentes indicaram observar os itens temperatura, umidade relativa e qualidade de cama.
*A JBS indicou monitorar todas as condições ambientais em todos os sistemas no qual atua.
Obs.: um dos respondentes indicou que, além dos monitoramentos acima citados, faz o acompanhamento da temperatura da cama e da qualidade da água.
3.1.8 Quais os tipos de cama você fornece aos frangos de corte? (Foi possível incluir mais de uma resposta).
Sistema Intensivo:
Sistema Orgânico
Sistema Caipira
Obs.: 11% dos respondentes disseram não saber a resposta.
3.1.9 Com qual frequência a cama é revirada nas propriedades onde estão alojados os frangos de corte?*
*A JBS informou realizar este procedimento de acordo com a orientação técnica no momento da vistoria do galpão.
3.1.10 Em média, após quantos lotes é feita a troca da cama nas propriedades onde estão alojados os frangos de corte?
3.1.11 Com relação à intensidade de luz, quantos lux são oferecidos aos frangos de corte no período de luz?
OBS.: a JBS especificou que altera a intensidade de luz de acordo com o sistema, sendo que para o Sistema Orgânico e Caipira utiliza de 40 a 49 lux e no Sistema Intensivo, de 20 a 29 lux (já contabilizado acima).
3.1.12 Qual a quantidade média de horas de escuridão contínua é oferecida aos frangos de corte por dia (sem considerar o manejo do início e final do lote)?
3.1.13 Por favor, especifique os tipos de lâmpadas utilizadas nas instalações onde estão alojados os frangos de corte?*
*A JBS não respondeu esta pergunta.
3.1.14 Com relação à concentração de amônia, qual a concentração média encontrada nos galpões onde estão alojados os frangos de corte?
Obtivemos apenas uma resposta, sendo esta da JBS, indicando que estes buscam observar uma concentração máxima de 20 ppm (meta <10ppm) que é mensurada na última semana do lote.
3.1.15 Com relação à concentração de dióxido de carbono, qual a concentração média encontrada nos galpões onde estão alojados os frangos de corte?
Obtivemos somente uma resposta, sendo esta da JBS, indicando que para o dióxido de carbono, busca-se encontrar um máximo 3000 ppm, medido nos primeiros 3 dias do lote.
3.1.16 Quais auditorias de terceiros vocês recebem em relação ao bem-estar de frangos de corte?
Obtivemos somente uma resposta, sendo esta da JBS, que informou que as auditorias são de acordo com o sistema de criação:
3.1.17 Você oferece algum tipo de enriquecimento ambiental aos frangos de corte (objetos e/ou estruturas para que as aves possam se manter ocupadas, melhorar seu comportamento e bem-estar)?
Os respondentes, em sua maioria (64%) afirmaram utilizar o enriquecimento ambiental para as aves, porém dois respondentes (18%) informaram não utilizar nenhum tipo de enriquecimento ambiental e dois respondentes não souberam responder (18%).
Obs.: a JBS completou informando que 6,72% de seus integrados fornecem enriquecimento ambiental às suas aves.
3.1.18 Qual a quantidade de itens de enriquecimento ambiental que você oferece aos frangos de corte? (Foi possível incluir mais de uma resposta).*
Os participantes da pesquisa informaram utilizar os seguintes tipos de enriquecimento ambiental:
Obs.: para complementar os enriquecimentos, a JBS descreveu os tipos mais utilizados e para quantos animais são disponibilizados:
3.1.19 Como você calcula a quantidade de itens de enriquecimento ambiental a serem oferecidos aos frangos de corte? Por galpão, por quantidade de animais, ou qual outro critério é utilizado para este cálculo?
Obtivemos somente uma resposta para esta pergunta e foi da empresa JBS.
3.1.20 Qual é o método de insensibilização utilizado no abatedouro dos frangos de corte?
Obtivemos somente uma resposta, sendo esta da JBS, com uso de 100% da insensibilização elétrica para os diferentes tipos de sistemas.
3.1.21 De maneira geral, quais os tipos de tecnologias, inovações e/ou serviços você gostaria de adquirir? (Foi possível incluir mais de uma resposta).*
Para esta pergunta, a maioria dos respondentes disseram que sim, adotariam tecnologias, inovações e/ou serviços (90%). Somente 1 respondente não soube opinar (10%).
OBS.: um produtor da região Nordeste destacou a questão da qualidade das fontes hídricas utilizadas para o consumo de água pelas aves, que provêm, em sua maioria, de poços rasos ou profundos. Cerca de 90% dessas fontes apresentam água com altos teores de sais, cálcio e magnésio, sendo classificada como salobra ou salgada. Atualmente, não existem estudos que avaliem os efeitos dessa água nas aves, as formas adequadas de tratamento ou os limites seguros de consumo.
*A JBS não respondeu a esta pergunta.
Para esta fase, as perguntas foram direcionadas ao bem-estar dos frangos de corte. O objetivo destas questões é compreender o grau de entendimento dos respondentes sobre o tema proposto.
3.2.1 Por favor, com as suas palavras, descreva o que você entende por bem-estar animal?
3.2.2 Você busca informações sobre o bem-estar de frangos de corte? Se sim, onde? (Foi possível incluir mais de uma resposta).
3.2.3 Quais pontos você considera positivos para os frangos quando são adotadas práticas de bem-estar animal? (Foi possível incluir mais de uma resposta).*
3.2.4 Quais pontos você considera negativos para os frangos quando não são adotadas práticas de bem-estar animal? (Foi possível incluir mais de uma resposta).*
3.2.5 Em quais pontos considera que você ou a empresa onde trabalha poderiam atuar para aumentar o grau de bem-estar dos frangos? (Foi possível incluir mais de uma resposta).*
Por meio desta pesquisa, foi possível identificar que os sistemas de criação predominantes entre os respondentes são os intensivos (44%). Entre esses, há uma variedade de densidade das aves, sendo os galpões climatizados dispostos em maior densidade (44%), além de uma variedade em práticas de enriquecimento ambiental.
A maioria dos respondentes entende o bem-estar animal como a capacidade das aves de expressar comportamentos naturais e viver em condições adequadas, livres de estresse e doenças. Há um desafio em problemas de saúde e locomoção das aves, bem como a necessidade de melhora nas práticas de manejo e condições ambientais. Por outro lado, há um interesse significativo em adotar novas tecnologias e práticas que possam melhorar o bem-estar das aves, destacando a importância do trabalho realizado pela Iniciativa MIRA nesta área. Há oportunidades em aumentar a participação em treinamentos e capacitações para melhorar o conhecimento sobre bem-estar animal, apoiar o diálogo para maior investimento em tecnologias e inovações que possam melhorar as condições de criação e manejo das aves, assim como apoiar a promoção de políticas e incentivos que estimulem a adoção de práticas de bem-estar animal.
De modo geral, foi possível observar que as empresas e os profissionais estão avançando no atendimento de aspectos mais práticos do Better Chicken Commitment, como iluminação natural, enriquecimento ambiental e densidade. No entanto, ainda enfrentam desafios em áreas como genética e métodos de abate. Esses aspectos, embora demandem tecnologias específicas e maior demanda do mercado, não são impossíveis de serem implementados, desde que sejam estudados a curto e médio prazo.
Freitas, I.S.; Salvador, A.P.; Mendonça, M.de O.; Tardocchi, C.F; Ferreira, I.deM. Atualidades e perspectivas do bem-estar animal na avicultura de corte e de postura. 2019.. Disponível em: https://nutritime.com.br/wp-content/uploads/2020/02/Artigo-484.pdf
Alves, S.P. Bem-estar na Avicultura de Corte. Boletim Ampavet. Disponível em: https://publicacoes.apamvet.com.br/PDFs/Artigos/13.pdf