Micotoxinas na avicultura

Diagnosticar problemas relacionados com micotoxinas é um grande desafio, uma vez que os seus efeitos nos animais são diversos, variando desde imunossupressão até a morte em casos severos. 

Vários fatores devem ser verificados para uma detecção eficiente de micotoxinas:

  • A própria toxina (tipo de micotoxina consumida, nível e duração da ingestão);
  • Diferenças entre os animais (espécie, sexo, idade, raça, estado sanitário, estado imunitário e nutrição);
  • Ambiente (manejo, higiene e temperatura).

Outros itens ainda podem ser incluídos, como fatores de estresse aos quais os animais podem ser submetidos em situações reais no campo ou um estado sanitário de alto desafio, com um sistema imunitário fragilizado e expostos a manejos deficientes. Todos esses pontos contribuem para a suscetibilidade final dos animais à presença de micotoxinas. É possível até que alguns animais apresentem sinais de micotoxicoses mesmo quando os níveis de micotoxinas presentes não são aparentemente altos.

Alguns efeitos das micotoxinas não são imediatamente detectados nos animais, entretanto, podem ser observados quando os animais são confrontados com agentes infecciosos e a imunossupressão é um desses efeitos. As aflatoxinas (AFLA), ocratoxina (OTA), tricotecenos como deoxinivalenol (DON) e fumonisinas (FUM), são conhecidos por diminuírem a resistência dos animais tornando-os mais susceptíveis a doenças. Os efeitos dessas micotoxinas, especialmente a deoxinivalenol e as fumonisinas, podem ter grande impacto no estado sanitário dos animais, não somente pelo aumento da susceptibilidade destes à diferentes doenças, mas também ao diminuir as respostas de vacinação.

Outros impactos estão relacionados à presença de micotoxinas:

  • Toxicidade relacionada com o sistema nervoso;
  • Efeitos relacionados com a produção de células sanguíneas;
  • Problemas de rins;
  • Efeitos gastrointestinais;
  • Problemas relacionados com a plumagem, mucosas e descendência com defeitos congênitos.

O impacto destes problemas nos diferentes sistemas produtivos pode ser frequentemente reconhecido uma vez que os animais passam a exibir comportamentos anormais.

Em aves, pode-se ocorrer a síndrome da ave pálida, o qual pode se observar a pele e até as patas das aves pálidas. Essa síndrome pode ser causada por diferentes fatores como a ingestão de aflatoxinas. A toxina T-2 também pode causar a síndrome através da redução da eficiência da absorção de nutrientes, diminuindo os níveis de carotenoides nos tecidos. Além do comprometimento do bem-estar das aves, podem ocorrer prejuízos econômicos ao produtor, pois a coloração inadequada da pele das aves levará à subvalorização das carcaças.

A ingestão de tricotecenos e fumonisinas ainda podem levar também à ocorrência de hemorragias, anemias ou outras desordens hematológicas. A diarréia tem sido associada à ingestão de tricotecenos como o deoxinivalenol e fumonisinas.

Amostras analisadas em 2021, no Brasil, revelam que o milho tem maior preocupação com deoxinivalenol, fumonisinas e zearalenona. Já a soja, segundo ingrediente mais utilizado na ração de aves, apresenta desoxinivalenol e zearalenona como as micotoxinas mais prevalentes.

Observa-se com muita frequência as chamadas micotoxinas mascaradas. A mais prevalente, deoxinivalenol-3-glicosideo, alcançou uma positividade de 44% em amostras analisadas. Essa micotoxina tem o mesmo efeito tóxico que deoxinivalenol. Outras micotoxinas também foram observadas como a moliniformina, presente em 56% das amostras, eniatina B1 em 35%, eniatina A1 em 28%, eniatina A em 15% e eniatina B em 23%. Todas essas micotoxinas possuem efeitos negativos comprovados na resposta imune dos animais.

Ao longo dos últimos anos os adsorventes têm sido utilizados para combater as micotoxinas nas dietas animais. Esta situação provou ser eficiente para aflatoxinas, mas no caso da zearalenona,  fumonisinas ou ocratoxina, a eficácia foi limitada, devido às diferentes estruturas físico-químicas das micotoxinas, fazendo com que nem todas possam ser adsorvidas de forma eficiente. 

Deste modo, uma boa abordagem para este cenário deve compreender não apenas a adsorção, mas também a biotransformação, ou seja, a conversão de micotoxinas em metabólitos não tóxicos por ação de enzimas ou microrganismos vivos.

Fonte:

Por Tiago Birro. A Revista do AviSite, nº 140, ano XIV. Set. 2022.

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