Doenças metabólicas de galinhas poedeiras

Ao considerarmos a produção de ovos no Brasil, observamos que 0,46% é destinada às exportações, enquanto 99,54% ficam no mercado interno e o seu consumo vem aumentando nos últimos anos: de 2010 a 2021, o consumo passou de 148 unidades/habitante para 257 unidades/habitante. Isso significa que é fundamental que as galinhas também tenham seu bem-estar respeitado. Doenças patogênicas, por exemplo, são frequentemente discutidas, porém, distúrbios nutricionais e metabólicos não identificados e tratados também resultam em prejuízos econômicos e a saúde das aves.

Infelizmente, muitas doenças metabólicas são reconhecidas apenas por meio de exame macroscópico e histológico das aves afetadas, sendo que para determinar se uma condição é um problema metabólico, é essencial descartar o diagnóstico de infecções patogênicas. Os distúrbios metabólicos geralmente resultam de deficiências ou excessos simultâneos de vários nutrientes e podem associar-se a infecções bacterianas, fúngicas, virais ou parasitárias.

Dentre os distúrbios metabólicos, existem dois tipos, os endêmicos que afetam uma proporção relativamente pequena de lotes de aves e os distúrbios esporádicos, que apresentam incidência relativamente alta. Em relação às doenças metabólicas que acometem poedeiras, atualmente as mais frequentes são a síndrome hemorrágica do fígado gorduroso e a fadiga de gaiola.

A síndrome hemorrágica do fígado gorduroso é uma doença não infecciosa (metabólica) de galinhas poedeiras, caracterizada por acúmulo excessivo de gordura no fígado e na cavidade abdominal, ruptura e hemorragia hepática e morte súbita. Embora a causa específica da doença ainda não esteja totalmente clara, sabe-se que vários fatores podem causar aumento da deposição de gordura nas células do fígado, como:

  • Alta produção de ovos, pois o fígado é o principal local onde ocorre a síntese lipídica e é muito ativo nas galinhas em período de produção;
  • Presença de toxinas;
  • Desequilíbrios nutricionais;
  • Consumo excessivo de dietas com níveis altos de energia;
  • Dietas pobres em fatores lipotrópicos;
  • Desequilíbrios endócrinos;
  • Componentes genéticos.

Fatores lipotrópicos como colina, osteoporose ou fadiga da gaiola, metionina e vitamina B12 são responsáveis pela mobilização de gordura do fígado. Dietas com baixos níveis desses fatores podem resultar em infiltração de gordura hepática e, consequentemente, o excesso de gordura acumulada no fígado poderá oxidar e causar hemorragias letais. Dietas com baixo teor de proteínas, alto teor de energia, desequilíbrio ou deficiência de aminoácidos também podem contribuir para a condição de síndrome hemorrágica do fígado gorduroso em galinhas.

Além dos fatores citados anteriormente, o aumento do peso corporal das galinhas pode impactar na mortalidade e estar associado à síndrome hemorrágica do fígado gorduroso. Estudos observam níveis elevados de lipídios hepáticos em aves mantidas em ambientes com altas temperaturas, pois a temperatura ambiente pode afetar o balanço energético das aves, favorecendo a ocorrência desta síndrome e a quantidade de gordura presente na cavidade abdominal e ao redor das vísceras.

Já a osteoporose ou fadiga da gaiola é uma doença que está relacionada à idade das galinhas, que se caracteriza pela redução da mineralização normal do osso estrutural, com consequente aumento da fragilidade e suscetibilidade a fraturas. A osteoporose resulta em alta incidência de fraturas, representando grave problema de bem-estar para as galinhas. Os fatores que contribuem para o desenvolvimento da osteoporose incluem:

  • Dieta inadequada;
  • Falta de absorção de cálcio, fósforo ou metabólitos da vitamina D;
  • Formação óssea prejudicada;
  • Deficiência de estrogênio;
  • Falta de exercício das aves.

É possível ainda acrescentar que a seleção genética visando maximizar a produção de ovos, associada à redução do peso corporal das aves para melhor eficiência alimentar, acarretou menor massa óssea estrutural nas aves. Quando as galinhas atingem a maturidade sexual, inicia-se a perda óssea, que continua durante todo o período de postura e é agravada em galinhas na fase final de produção. Podemos ainda somar a questão da restrição de movimento das aves que são mantidas em gaiolas.

Algumas abordagens nutricionais como o uso de níveis adequados de cálcio, fósforo e vitamina D podem aliviar ou prevenir a osteoporose. A alimentação de cálcio na forma de grânulos de calcário, por exemplo, apesar de não impactar muito na perda de osso estrutural, pode prolongar o período de absorção de cálcio durante a noite e reduzir a depleção de osso medular, beneficiando a qualidade da casca do ovo. A nutrição pré-postura adequada também pode ajudar nessa prevenção.

Estas são as doenças metabólicas mais frequentemente encontradas na avicultura de postura, entretanto, outras também podem comprometer o bem-estar das aves como raquitismo, gota, urolitíase renal, desequilíbrios na ingestão de água, desequilíbrio eletrolítico, deficiências e toxicidades de vitaminas e minerais. Fica evidente a necessidade de formular rações que atendam às exigências nutricionais das aves, com matérias primas de qualidade e boa mistura.

De maneira geral, com relação às doenças metabólicas, deve-se considerar que diversos fatores podem interferir no fornecimento de rações idênticas em relação ao que foi formulado:

  • Metabolismo dos nutrientes;
  • Vias bioquímicas incorretas devido às enzimas, coenzimas ou cofatores desregulados;
  • Fornecimento insuficiente ou excessivo de nutrientes;
  • Animais com deficiência nutricional, ou intoxicados por fatores dietéticos ou ambientais.

Sendo assim, faz-se importante priorizar questões ao redor da genética, ambiência, sanidade e nutrição, espaço, visando evitar os distúrbios metabólicos o máximo possível e sempre que possível, fornecer ambientes com menor restrição às aves expressarem seus comportamentos naturais e realizar o diagnóstico cuidadoso e tratamento eficaz das doenças metabólicas para garantir a elevada eficiência da produção.

Fonte:

Mendonça, M.V. Adaptado de Revista do OvoSite. Março, 2023.

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