Como fica o mercado de ovos com os surtos de Influenza Aviária?

Os produtores do setor avícola nunca ficaram tão atentos ao céu como nos últimos meses. Seja na Europa, Ásia, América Central, Estados Unidos ou Brasil, todos monitoram, de alguma forma, a passagem de aves migratórias para assegurar que espécimes doentes não entrem em contato com as criações comerciais de aves.

O número de casos de aves infectadas pela Influenza Aviária explodiu em 2022, desde o hemisfério Norte, avançando para países da América do Sul que anteriormente não tinham nenhum registro da doença. É a maior onda intercontinental da epidemia, que já chegou a 70 países e em um ano obrigou o sacrifício sanitário de quase 140 milhões de aves comerciais, mais do que nos cinco anos anteriores somados.

A Influenza Aviária (H5N1) é devastadora tanto para as aves silvestres como para as comerciais, como galinhas, patos, gansos e perus. No Equador, o vírus chegou em novembro/2022, fazendo com que em uma granja com 180 mil galinhas poedeiras, 50 mil morressem em 48h e as demais fossem sacrificadas. Mais de 5 mil pelicanos morreram nas praias do Peru e carcaças dessas aves apareceram também na Venezuela, Colômbia e Chile. Nos Estados Unidos, a epidemia causou a morte de 40 milhões de galinhas poedeiras. Aves mantidas em sistemas com acesso ao ar livre infelizmente também são afetadas e ficam mais expostas ao contato com o vírus.

No mercado americano, o vírus já impactou sobre o preço dos ovos, que alcançaram valor recorde de US$5,36 a dúzia (quase R$28,00), pressionados também pelos custos de ração e mão de obra. No surto de gripe aviária de 2015, os casos diminuíram naturalmente no mês de junho. Entretanto, desta vez, o vírus ainda permanece e causa preocupação constante.

No Brasil, maior exportador de carne de frango, nunca houve registro de casos da Influenza Aviária, muito menos da cepa H5N1. Segundo Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a proximidade do vírus em áreas costeiras da América do Sul de fato cria um alerta para nós, mas não é possível dizer se vai chegar ou quando, ao nosso país. Episódios de infecção da Influenza Aviária já foram observados no Chile em 2019, mas não chegaram até o Brasil. O setor, contudo, está em alerta e a ABPA disponibilizou diversas recomendações, dentre elas, a suspensão total de visitas a granjas, frigoríficos e demais estabelecimentos avícolas. Santin ainda acrescenta que, por ser líder global em exportações, o Brasil mantém rígidos controles de biossegurança nos plantéis industriais, e caso a doença chegue até nosso país, o governo e as empresas estarão preparados para acabar com o surto imediatamente, sem risco de diminuir a oferta de carne no mercado interno.

A favor de nosso país está o fato do mapa de produção de aves não coincidir com as rotas das aves migratórias. As principais rotas ou pontos de parada envolvem os rios Araguaia e Paraguai e as lagoas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. A Cordilheira dos Andes e a Floresta Amazônica também funcionam como muros biológicos de proteção contra a chegada do vírus em maior quantidade.

O pesquisador Luizinho Caron, da Embrapa Aves e Suínos (Concórdia/SC), observa que, até agora, a maior parte dos surtos na América do Sul aconteceram em aves silvestres ou em criações domésticas, sinalizando que na avicultura de corte, a questão está bem encaminhada, devido uso de proteção como telas que impedem a aproximação das aves silvestres às comerciais. O pesquisador ainda destaca que nos Estados Unidos, o número de aves silvestres é muito maior do que no Brasil, em função do clima e da proximidade com o Polo Norte, também pelo fato de na Europa e Sudoeste Asiático, existirem grandes produções de aves aquáticas, marrecos, patos e gansos, nos mesmos locais onde as aves silvestres frequentam.

O Brasil já tem um reconhecimento internacional de regiões sanitárias e geográficas distintas, dentro do próprio território. Assim, caso o vírus chegue ao nosso país, não haveria porque perder mercado de forma significativa, além da adoção de medidas saneadoras por compartimentos ou áreas. Santin ainda informa que não vê motivo para embargo comercial, pois a infecção em aves silvestres, selvagens ou de subsistência não afetaria o comércio geral do nosso país, reforçando que os Estados Unidos e Europa continuam exportando.

A analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA Esalq/USP), Juliana Ferraz afirma que, a partir do primeiro registro da Influenza Aviária no Brasil, poderá ocorrer um impeditivo para que outros países aumentem as compras de carnes brasileiras ou até mesmo barrar nossas exportações por um determinado período. Este fato já foi verificado em relação à China com a Alemanha, no caso da peste suína africana, afirma Juliana.

Segundo Santin, caso o Brasil permaneça livre da Influenza, deve ampliar ainda mais sua fatia no mercado internacional de carne de frango, e tal fato não deverá se refletir no aumento de preços ou com impacto direto na distribuição de produtos ao mercado interno.

Juliana também reforça que por vias tortas, a cadeia produtiva brasileira de aves tem sido beneficiada. Além do impacto global da gripe aviária, a guerra entre Ucrânia e Rússia prejudicou as exportações de um dos maiores produtores de frango da Europa. Os números ainda não estão finalizados, mas segundo ABPA, estima-se que a produção de carne de frango brasileira tenha encerrado 2022 em 14,5 milhões de toneladas, 1,5% a mais que em 2021, levando o país a superar a China no segundo lugar do ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos.

Fonte:

Adaptado de Marcos Tosi – Gazeta do Povo

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