Carcaça de frangos: falta de cuidados pode gerar prejuízos ao bem-estar das aves e ao bolso do produtor

Um grande número de carcaças de frangos de corte precisam ser diariamente reprocessadas nos abatedouros devido a diferentes problemas e tornando inviável seu consumo na forma integral, segundo o Serviço de Inspeção Sanitária. Essa questão, em alguns momentos, é relativizada, uma vez que muitos cortes são aproveitados de maneira parcial.

No entanto, diferentes adequações operacionais são necessárias para compensar estas alterações das características das carcaças, como a cor da carne, integridade da pele, ausência de arranhaduras, hematomas e/ou fraturas. Isto implica no aumento da necessidade de monitoramento durante o processamento, seleção durante a definição da utilização do produto e respectiva revisão de critérios de seleção, pois para determinados clientes a matéria-prima deve manter atributos de qualidade tanto microbiológica, de segurança com a ausência de resíduos quanto de uma carcaça visualmente aceitável.

Sendo assim, a integridade das carcaças de frangos de corte constitui-se como um fator fundamental que deve ser considerado por toda a cadeia, pensando também no bem-estar das aves, desde o alojamento dos pintainhos até o frigorífico.

Durante o alojamento dos pintainhos, um dos principais itens a ser considerado é a condição da cama, pois as camas novas tendem a aumentar a predisposição das aves jovens em relação a lesões de pele. Outro ponto diz respeito aos comedouros e bebedouros em relação à densidade, pois nos momentos de troca da ração, com modificação da textura em virtude da dureza do pellet, pode ocorrer um maior tempo de permanência da ave no comedouro, e consequentemente, aumentar o número de animais no comedouro/amontoamento, podendo impactar na integridade da pele das aves com a presença de arranhaduras.

Com relação a engorda das aves, um dos fatores evidenciados com maior frequência diz respeito ao manejo incorreto de ambiência, o que nas etapas críticas pode predispor a um maior amontoamento das aves pela má distribuição de ventilação, aumentando o risco de arranhaduras. Os manejos de pesagem, atraso na entrega de rações, ausência de cercas divisórias no galpão e um programa incorreto de luz também devem ser considerados.

Diferentes operações também apresentam riscos para impactar de maneira negativa a integridade das carcaças das aves, especialmente no aspecto visual, como os manejos pré-abate de incorreto de levantamento dos comedouros, amontoamento das aves para a apanha, alta densidade nas caixas de transporte ou condições precárias das estradas.

Fatores como amônia e densidade também impactam sobre a qualidade da cama, podendo gerar pododermatites  ou diferentes níveis de calosidades, que também são indicadores validados na avaliação do grau de bem-estar animal dos frangos de corte.

O jejum prolongado também pode gerar consequências negativas para o bem-estar das aves e a qualidade das carcaças, pois além das perdas de peso, rendimento e qualidade, aumenta a possibilidade de ruptura da vesícula biliar com extravasamento de conteúdo biliar na carcaça e consequente remoção da pele, além de riscos na disseminação de Salmonella.

Com relação a lesões nas asas, estas estão relacionadas especialmente ao momento da apanha e durante a transferência das aves para as caixas de transporte, mas também pode ocorrer no momento da pendura, quando há obstruções do percurso da linha de abate, podendo até causar um efeito negativo sobre a insensibilização da ave.

As condições de transporte também têm papel importante na qualidade das carcaças das aves. O transporte não pode apenas ser considerado em relação ao menor valor de frete e maximização do transporte das aves. O aumento da densidade nas caixas de transporte pode aumentar o número de aves que chegam mortas ao frigorífico (DOA). Da mesma forma, uma densidade baixa pode ser negativa. A associação entre mais espaço nas caixas de transporte, a velocidade do caminhão e condições das estradas podem gerar especialmente lesões no dorso ou superfície externa das asas dos frangos.  Ainda com relação ao transporte, deve-se fazer um acompanhamento ao tempo das viagens. Pode-se monitorar a necessidade dos motoristas realizarem duas viagens no dia para viabilizar suas atividades. Este cuidado se deve à associação perigosa entre alta velocidade, estradas com grande quantidade de curvas, subidas íngremes, caixas com alta densidade e com aves pesadas e empilhamento de 9 ou 10 caixas no caminhão. O resultado é que as aves transportadas no final da carroceria e nas partes mais altas apresentarão mais problemas, pois certamente sentirão mais essas irregularidades.

Já no frigorífico, o processo de pendura é uma etapa crítica tanto no aumento de estresse das aves quanto na qualidade das carcaças. Há desafios na interação entre o pendurador e as aves, a alta velocidade da linha de abate, somado a um ambiente de baixa qualidade, com presença de poeira, baixa luminosidade e atividade repetitiva. Ainda, a presença de ganchos vazios aumenta a possibilidade de estes causarem golpes na superfície da carcaça no interior da depenadeira. O espaço lateral para os penduradores deve ser de 85 cm efetivo, não deve haver obstruções mecânicas à passagem das aves e cada pendurador deve ter trabalhar com 20 aves/minuto. A forma de retirada das aves das caixas de transporte, a passagem das asas no sentido inverso à passagem das caixas, bem como o atrito das mãos dos penduradores nas asas são itens de rotina a serem acompanhados. 

Uma prática recomendada, além do treinamento constante, é a manutenção constante de um colaborador observando os procedimentos de pendura das aves. Carcaças caindo indicam uma necessidade de melhoria, seja dos ganchos ou das equipes.

Durante o processo de depenagem é comum observar lacerações potencializadas pelas frágeis condições de elasticidade da pele ou fraturas decorrentes de manejo incorreto dos dedos das depenadeiras, como a falta substituição dos dedos em situação de desgaste. Lesões presentes nas carcaças e sempre na mesma posição podem ser atribuídas a um dedo desgastado da depenadeira, como lacerações em superfícies, arrancamento de pele ou grande quantidade residual de pele.

As lesões associadas à insensibilização nem sempre são evidentes e podem ocorrer no processo pré-atordoamento, do ajuste da entrada das aves na cuba de insensibilização ou ainda no barramento do eletrodo de transmissão de corrente. O excesso de matéria orgânica na água da cuba, ganchos vazios, velocidade de abate e tamanho das aves ajustados a cuba completam as principais causas associadas aos defeitos observados nas asas das aves. Ainda é possível observar se há excesso de sangue nas artérias braquiais, que pode ser decorrente de um atordoamento superficial, agravando a questão de bem-estar animal dos frangos. Em geral, deve-se acompanhar no início do abate se houve qualquer modificação na disposição dos equipamentos que possa causar obstrução mecânica à passagem dos frangos.

De maneira geral, é importante considerar o bem-estar dos frangos de corte, os efeitos de perdas, reprocesso e produtos inviabilizados especialmente em sistemas mecanizados que dependem da integridade das carcaças para sua eficácia.

Fonte:

  • França. J.M. Fatores de influência na qualidade e integridade de carcaças de frangos. Adaptado da Revista AviSite, 143. Junho/2023.

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